TAG - Transtorno de Ansiedade Generalizada
Sintomas emocionais e cognitivos Preocupação constante com trabalho, saúde, família, dinheiro ou futuro Sensação de que algo ruim vai acontecer (antecipação negativa) Dificuldade de relaxar ou “desligar a mente” Medo excessivo de errar ou decepcionar Irritabilidade frequente Dificuldade de concentração e memória Sensação de estar sempre “em alerta
Dr. Marcos Figarella
12/26/20256 min read

Transtorno de Ansiedade Generalizada: Quando a Preocupação Toma Conta
Você já teve aquela sensação de que está constantemente esperando que algo ruim aconteça? Aquele aperto no peito que parece não ter motivo específico, mas está sempre ali, de prontidão? Ou aquela lista interminável de "e se..." que roda na sua cabeça sem parar? Bem-vindo ao mundo da ansiedade generalizada.
O Que É TAG, Afinal?
O Transtorno de Ansiedade Generalizada - ou TAG, como chamamos no meio médico - é basicamente isso: uma preocupação excessiva e persistente sobre diversos aspectos da vida cotidiana. Mas não estamos falando daquela preocupação normal que todo mundo tem antes de uma apresentação importante ou de uma consulta médica. Não.
Estamos falando de uma ansiedade que é desproporcional à situação real, que dura a maior parte dos dias por pelo menos seis meses, e que a pessoa simplesmente não consegue controlar. É como se o botão de "alerta" do cérebro ficasse travado na posição "ligado" o tempo todo.
A pessoa com TAG se preocupa com tudo: saúde, finanças, trabalho, relacionamentos, segurança dos filhos, o que os outros pensam dela, se vai chegar no horário, se disse algo errado numa conversa de três dias atrás... A lista é infinita. E o pior: ela sabe que está preocupada demais, mas não consegue parar.
O Que Acontece no Cérebro
Vamos falar de ciência por um momento. No TAG, existe uma hiperatividade em certas áreas do cérebro, especialmente a amígdala (nossa central de processamento do medo) e o córtex pré-frontal (responsável pelo controle e planejamento). É como se houvesse um alarme de incêndio tocando constantemente, mesmo quando não há fogo nenhum.
Os neurotransmissores também entram nessa história. O GABA (ácido gama-aminobutírico), que é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro - ou seja, aquele que acalma as coisas - funciona de forma deficiente. Ao mesmo tempo, há alterações nos sistemas de serotonina e noradrenalina, que regulam humor e resposta ao estresse.
Estudos de neuroimagem mostram que pessoas com TAG têm padrões diferentes de ativação cerebral quando expostas a estímulos ameaçadores ou ambíguos. O cérebro delas interpreta situações neutras como potencialmente perigosas com muito mais frequência.
Os Sintomas Vão Além da Cabeça
Aqui está algo que muita gente não percebe: TAG não é só mental. O corpo sofre junto.
Mentalmente, a pessoa experimenta preocupação constante, dificuldade de concentração (porque a mente está sempre em outro lugar, antecipando problemas), irritabilidade, sensação de estar "no limite", dificuldade para tomar decisões e aquela sensação de que a mente está em branco ou acelerada demais.
Fisicamente, os sintomas são bem reais e podem ser bastante incômodos: tensão muscular crônica (especialmente no pescoço, ombros e mandíbula), fadiga constante, problemas de sono (dificuldade para adormecer ou sono não reparador), dores de cabeça tensionais, problemas gastrointestinais (como síndrome do intestino irritável), sudorese, tremores, sensação de falta de ar, palpitações.
Muita gente com TAG passa anos indo de médico em médico, fazendo exames atrás de exames, procurando uma explicação física para esses sintomas - sem perceber que a origem está na ansiedade crônica.
Por Que Eu? A Questão das Causas
Essa é uma pergunta que escuto muito no consultório. E a resposta honesta é: geralmente não há uma causa única.
A genética pesa bastante. Se você tem familiares com transtornos de ansiedade, seu risco aumenta significativamente. Estudos com gêmeos mostram que a herdabilidade do TAG gira em torno de 30-40%. Mas ter a predisposição não significa que você vai desenvolver - é mais como ter o terreno fértil que pode ou não germinar.
Experiências de vida importam muito. Traumas, estresse crônico na infância, superproteção parental (que impede a criança de desenvolver habilidades de enfrentamento), perdas significativas, situações de insegurança prolongada - tudo isso pode moldar a forma como nosso cérebro processa ameaças.
Temperamento também conta. Crianças com inibição comportamental (aquelas mais tímidas, que se assustam facilmente, que evitam novidades) têm maior risco de desenvolver transtornos de ansiedade na vida adulta.
E tem mais: fatores como desequilíbrios hormonais, uso de substâncias (cafeína em excesso, por exemplo), certas condições médicas (como problemas de tireoide) e até mesmo o estilo de vida moderno - com sua sobrecarga de informações, pressão constante e falta de tempo para descanso real - podem contribuir.
Como Saber Se É TAG ou Só Estresse Normal?
Olha, todo mundo fica ansioso às vezes. Isso é completamente normal e até adaptativo - a ansiedade nos ajuda a nos preparar para desafios e evitar perigos reais.
A diferença está na intensidade, duração e prejuízo. Pergunte-se:
Essa preocupação é desproporcional à situação real?
Eu consigo controlar ou interromper essas preocupações quando quero?
Isso está acontecendo na maior parte dos dias há mais de seis meses?
Essa ansiedade está atrapalhando meu trabalho, relacionamentos ou qualidade de vida?
Eu evito situações por causa dessa ansiedade?
Tenho sintomas físicos frequentes sem explicação médica?
Se você respondeu "sim" para várias dessas perguntas, vale a pena procurar uma avaliação profissional.
TAG e Outras Condições: A Turma Toda Junto
Raramente o TAG vem sozinho. É muito comum que a pessoa tenha também depressão (em cerca de 60% dos casos), outros transtornos de ansiedade (como fobia social ou transtorno do pânico), ou condições como síndrome do intestino irritável, fibromialgia ou enxaqueca crônica.
Essa sobreposição não é coincidência - existe uma base neurobiológica comum entre essas condições, especialmente envolvendo os sistemas de serotonina e a regulação do estresse.
O Tratamento: Sim, Funciona!
Aqui vai a melhor notícia: TAG tem tratamento eficaz. Muito eficaz, inclusive.
A psicoterapia é fundamental, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Na TCC, a pessoa aprende a identificar pensamentos distorcidos ("catastrofização", por exemplo), questionar essas crenças e desenvolver formas mais realistas de interpretar situações. Também aprende técnicas de manejo da ansiedade, como respiração diafragmática, relaxamento muscular progressivo e exposição gradual a situações evitadas.
Outras abordagens como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e mindfulness também mostram bons resultados, ajudando a pessoa a mudar sua relação com os pensamentos ansiosos ao invés de tentar eliminá-los completamente.
Medicamentos podem ser necessários, especialmente em casos moderados a graves. Os ISRSs (inibidores seletivos de recaptação de serotonina) e IRSNs (inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina) são a primeira linha de tratamento. Eles ajudam a corrigir os desequilíbrios de neurotransmissores e geralmente levam de 4 a 6 semanas para fazer efeito completo.
Benzodiazepínicos podem ser usados no curto prazo para alívio rápido, mas não são solução de longo prazo devido ao risco de dependência e tolerância.
Mudanças no estilo de vida fazem diferença real - e isso tem comprovação científica sólida:
Exercício físico regular reduz ansiedade de forma significativa (libera endorfinas, regula cortisol, melhora neurotransmissores)
Sono adequado é essencial (privação de sono aumenta reatividade da amígdala)
Redução de cafeína e álcool ajuda muito (ambos podem piorar ansiedade)
Técnicas de relaxamento como meditação, yoga, respiração controlada têm efeitos mensuráveis na atividade cerebral
Conexões sociais de qualidade funcionam como fator protetor
Convivendo com TAG: É Possível Ter Qualidade de Vida
Vou ser honesto com você: TAG é uma condição crônica para muitas pessoas. Mas crônico não significa "sem solução" ou "sem esperança". Significa que requer manejo contínuo, assim como diabetes ou hipertensão.
Com tratamento adequado, a maioria das pessoas com TAG consegue reduzir significativamente os sintomas e recuperar qualidade de vida. Algumas ficam completamente assintomáticas, outras aprendem a conviver com níveis manejáveis de ansiedade.
O importante é entender que você não precisa viver refém da preocupação constante. Que aquele aperto no peito não precisa ser seu companheiro permanente. Que é possível treinar seu cérebro a interpretar o mundo de forma menos ameaçadora.
Um Recado Final
Se você se identificou com o que leu aqui, não ignore. TAG não é frescura, não é falta de força de vontade, não é "coisa da sua cabeça" no sentido pejorativo. É uma condição médica real, com base neurobiológica, que merece atenção e tratamento adequados.
E aqui vai algo importante: buscar ajuda não é sinal de fraqueza. É, na verdade, um ato de coragem e autocuidado. É reconhecer que você merece viver sem esse peso constante, sem essa tensão que drena sua energia e rouba sua paz.
O primeiro passo pode parecer assustador - ironicamente, pessoas com ansiedade muitas vezes têm ansiedade sobre procurar tratamento. Mas esse passo pode ser o início de uma vida com muito mais leveza, presença e tranquilidade.
